Movimento Desconecta, criado em colégio de São Paulo, propõe acordo entre pais para que crianças só tenham smartphones aos 14 anos de idade
São Paulo – Um grupo de mães de São Paulo decidiu criar um movimento para adiar o acesso de crianças e adolescentes aos smartphones. A iniciativa, que ganhou o nome de Movimento Desconecta, propõe que os pais façam um acordo entre si e só presenteiem os filhos com celulares a partir dos 14 anos. Já as redes sociais seriam liberadas apenas depois dos 16 anos.
O movimento é inspirado em ações parecidas de outros países, como a Wait until 8th e Smartphone Free Childhood, dos Estados Unidos e Reino Unido respectivamente, e leva em consideração uma série de pesquisas que alertam para os riscos do uso excessivo de telas e redes sociais entre crianças.
A ideia brasileira surgiu em abril, em uma escola particular de São Paulo. Cofundadora do movimento, Camila Bruzzi explica que ela e outras mães perceberam que, por mais que quisessem adiar a entrega de smartphones aos filhos, a decisão seria dificultada se outras crianças ao redor tivessem acesso ao celular.
“Caiu a ficha do quanto essa questão social é determinante para esse momento em que o pai e a mãe dão o celular para a criança. Então a gente pensou: ‘Se o grande motivo é que todo mundo tem, isso a gente consegue influenciar’.”
A partir daí, teve início um debate sobre o tema com outros pais por meio de um grupo de WhatsApp. Em pouco tempo, a ideia de criar um “grande acordo” para adiar a entrega dos smartphones ganhou força entre eles e acabou furando a bolha do colégio.
“Mesmo antes de a gente começar a divulgar, começamos a receber mensagens de pais de outras escolas”, conta Camila.
Debate sobre o tema
As fundadoras do movimento criaram um perfil no Instagram e um site para reunir as informações sobre o tema. Em um mês, a página na rede social chegou a 17 mil seguidores.
O grupo divulga uma série de dicas para que outros pais possam discutir o tema nas escolas dos filhos e em outros espaços de convívio com crianças. No site do movimento, as fundadoras criaram um passo a passo, explicando como levar o debate sobre o assunto adiante e incentivando mais famílias a aderirem ao acordo.
As mães também defendem que as escolas se tornem “zonas livres de telefones celulares” e que as crianças possam brincar livremente para promover a interação social.
Os objetivos são inspirados em recomendações do psicólogo social Jonathan Haidt, autor do livro “A geração ansiosa” e que estudou o impacto dos smartphones na vida de crianças e adolescentes. Segundo ele, o uso excessivo de telas aumentou os casos de depressão e ansiedade na infância.
Outros estudos também mostram que smartphones podem prejudicar o desenvolvimento de crianças, afetar a aprendizagem e a socialização delas.
Camila explica que o Movimento Desconecta não prega a exclusão total das telas, mas entende que adiar a presença do smartphone na infância é uma forma de equilibrar o uso das tecnologias.
“A gente sabe que as crianças hoje estão imersas em uma realidade em que elas têm contato com a tecnologia, com as telas. Elas usam dispositivos digitais nas escolas. O que a gente está falando é para sermos mais conscientes e adiarmos a entrega do celular porque é algo que vai dar um acesso ilimitado no bolso deles a qualquer momento. A nossa proposta é sobre balanço, sobre equilíbrio, e adequado à maturidade neurológica de cada idade.”
O grupo tem feito uma série de campanhas de conscientização sobre o assunto para ampliar o número de pais adeptos à iniciativa.
Também cofundadora do movimento, Fernanda Cytrynowicz diz que o acordo foi a forma que as mães encontraram para proteger mais os filhos. “Nossa vontade é de que eles tenham uma infância mais saudável”, diz ela.
Celular na escola
Um projeto de lei da deputada estadual Marina Helou (Rede), em debate na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), prevê que os celulares sejam proibidos nas escolas.
O PL se baseia, entre outros dados, em um levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que aponta que alunos têm pontuações mais baixas no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) quando utilizam a internet por longos períodos.